domingo, outubro 04, 2015

Eleições — 3 factos

GUSTAVE COURBET
Mulheres peneirando trigo
1854
Quem ganhou as eleições? Quem perdeu as eleições? Para lá da contabilidade de vencedores e vencidos, três fenómenos transversais — unindo todas as direitas e todas as esquerdas — marcaram os comportamentos das forças políticas e, em particular, das suas figuras mais emblemáticas.

1. O triunfo das linguagens televisivas — Já ninguém se preocupa em construir discursos realmente políticos, isto é, capazes de nos ajudar a lidar com a complexidade do mundo à nossa volta. Tudo ou quase tudo é dito e pensado (quando é pensado...) para funcionar como soundbyte televisivo.

2. O estreitamento do social — A importância conferida às redes (ditas) sociais é bem reveladora da fragilização de qualquer sentido colectivo ou de colectividade. O social deixou de ser a imensa teia de relações, conscientes ou não, em que nos movemos, para passar a ser entendido — e, em última instância, praticado — como um labirinto de links e likes.

3. A hipocrisia do discurso — Subitamente, no dia das próprias eleições, televisões e partidos pareceram aliar-se para fazer proliferar as pequenas entrevistas em que todos se mostram hiper-preocupados com o fenómeno abstencionista. Na prática, depois de anos e anos de alheamento em relação ao grave problema da indiferença social dos cidadãos, produzem-se mais soundbytes para usar e deitar fora.