terça-feira, julho 28, 2015

"Mínimos" — a grande fábula (1/2)

Um caso sério da animação contemporânea: os Mínimos relançam, com alegria e inteligência, a fábula infantil — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 Julho), com o título 'A mancha amarela dos Mínimos à conquista do mundo'.

São pequeninos, amarelos e têm dois olhos (em boa verdade, às vezes apenas um...). Dialogam numa língua cuja gramática não está publicada. Ainda assim, isso não nos impede de compreender muitas das suas formas de comunicação, por vezes com bizarras derivações espanholas (?), até porque se exprimem com eloquência no domínio musical, cantando de forma exuberante e, há que reconhecê-lo, bem afinada. Característica fundamental: adoram bananas! Não têm os poderes dos super-heróis dos filmes, mas são capazes de conquistar o mercado global do cinema. No dia 12 de Julho, a revista Variety escrevia mesmo: “Os Mínimos conseguiram dominar o mundo!”. E não era caso para menos: no primeiro fim de semana de exibição (em 56 países, incluindo EUA), as suas aventuras cinematográficas arrecadaram quase 400 milhões de dólares, prevendo-se que possam vir a superar a barreira dos mil milhões.
Digamos que o filme Minions, entre nós chamado Mínimos, já era um fenómeno antes de chegar às salas. Isto porque a sua popularidade está ligada a dois grandes sucessos dos desenhos animados: Gru – o Maldisposto (2010) e Gru – O Maldisposto 2 (2013), ambos realizados pelo francês Pierre Coffin e o americano Chris Renaud. Aí, o super-vilão Gru (com a voz do brilhante Steve Carell) ia multiplicando as suas maldades para dominar o mundo, incluindo um plano para roubar a... Lua, sempre servido pela legião imensa dos Mínimos: na sua festiva mancha amarela, eles são felizes apenas por poderem servir o seu mestre, embora nunca consigam ser um modelo de disciplina.
Agora, os Mínimos têm direito à sua própria aventura: o novo filme relata-nos os tempos que antecederam a sua relação com Gru (como se diz na gíria industrial, trata-se de uma “prequela”). E convenhamos que não tiveram uma existência fácil. A saga dos Mínimos leva-nos até aos momentos mais cruéis da pré-história — ficamos mesmo a saber que terão tido um papel determinante, ainda que involuntário, no fim dos dinossauros, antes de se colocarem ao serviço de personagens tão emblemáticas como Napoleão Bonaparte ou o Conde Drácula... Até que numa convenção de vilões, a bem chamada Villain-Con, parecem encontrar a sua líder ideal: nada mais nada menos que a implacável Scarlet Overkill (voz de Sandra Bullock, impecável), apostada em roubar a coroa de Isabel II...
A promoção dos Mínimos à condição de protagonistas da nova produção dos estúdios Universal amplia ainda mais a popularidade conquistada através dos dois filmes de Gru. Como vários observadores dos mercados cinematográficos já fizeram notar, há neles um humor capaz de transcender fronteiras e linguagens, já que as suas leis decorrem da mais primitiva tradição burlesca (por vezes, aproximando-os do “slapstick” do cinema mudo em que o absurdo pode nascer dos detalhes aparentemente mais banais).
Tudo isso se reforça através da emergência de três “vedetas” dos Mínimos: Kevin, o “irmão” mais velho, com um pequeno tufo de cabelo eriçado, ansiando por provar o seu heroísmo; Stuart, o eterno adolescente (só com um olho), sempre pronto para a festa; e Bob, o mais pequenino e ingénuo que... gosta de toda a gente.
Desta vez repartindo a realização com Kyle Balda, outro animador americano, Pierre Coffin comete a proeza de ser também o responsável pelas vozes dos Mínimos, em particular das nuances expressivas que caracterizam Kevin, Stuart e Bob. Aliás, tem sido referida alguma curiosa semelhança entre os três passarinhos amarelos que integravam Ping (1997), a sua primeira curta-metragem, e os futuros Mínimos. Uma coisa é certa: este universo tornou-se uma das mais rentáveis franchises dos modernos desenhos animados, estando já agendado um Gru – O Maldisposto 3 para 2017.