segunda-feira, julho 21, 2014

Uma revista com 140 emoções

Saíu com data de Maio (por altura do Festival de Cannes): o nº 700 dos Cahiers du Cinéma é uma muito especial e contagiante antologia de depoimentos de 140 cineastas de todo o mundo. Não exactamente sobre a sua experiência profissional. E também não solicitando as sempre apetecíveis profecias (para onde vai o cinema?...). Antes regressando a uma espécie de estado anterior à própria consciência do cinema como trabalho ou expressão artística, solicitando a cada um que evocasse uma emoção cinematográfica primordial, fundadora e insubstituível. Como escreve Stéphane Delorme na apresentação da edição, foi-se impondo o desejo de "que cada convidado contasse uma emoção de cinema, um momento que o assombrasse, de modo a que este nº 700 se parecesse com um caderno de emoções íntimas, uma grande tapeçaria ou um conjunto de imagens, um filme sonhado."
Vale a pena ler — e ver os muitos fotogramas que acompanham os textos. Aqui fica o momento citado por Martin Scorsese: os minutos finais de Citizen Kane/O Mundo a Seus Pés (1941), de Orson Welles, em que o espectador fica a conhecer a origem da palavra "Rosebud", pronunciada por Kane/Welles na cena de abertura. Aos que, eventualmente, não conheçam o filme, aconselha-se a passar à frente, sugerindo, já agora, que comecem pelo princípio — e descubram a sua emoção.