terça-feira, julho 22, 2014

Novas edições:
Marc Almond

“Ten Plagues – A Song Cycle”
SFE
3 / 5

Se há algo a esperar sempre na obra de Marc Almond é um gosto pelo inesperado. E por muito que o associemos à memória da pop electrónica dos Soft Cell ou ao registo da torch song em que criou alguns dos seus temas mais marcantes, a sua discografia é um espaço de invulgar variedade para um autor, sendo frequentes as ocasiões em que abordou temas de outros ou assinou parcerias criativas que alargaram os horizontes dos seus espaços musicais. De colaborações com Gene Pitney, Bronski Beat, PJ Proby ou Foetus a incursões pelas obras de Jacques Brel, Charles Aznavour ou do trovador russo Vadim Kozin, Almond sempre procurou contrariar uma rotulagem fácil da sua personalidade e obra. Este ano, ao mesmo tempo que apresenta um novo disco de originais em estúdio avança com mais duas parcerias que o transportam para lá das fronteiras do universo pop mais canónico. Uma dessas parcerias emergiu há já algumas semanas sob o título The Tyburn Tree, disco cujo protagonismo partilha com John Harle. Agora, e três anos depois de assinar um ciclo de canções ao lado de Michael Cashmore, leva a disco um outro ciclo originalmente estreado em 2011 em Edimburgo. Trata-se de Ten Plagues, ciclo para voz e piano com libreto de Mark Ravenhill e música de Conor Mitchell. O ciclo surgiu depois de Almond ter visto Mother Clap’s Molly House de Ravenhill em 2001, do entendimento entre os dois tendo nascido um novo libreto sobre a grande peste que assolou Londres em 1665 mas que juntou entre as suas fontes de inspiração o ensaio de Susan Sontag Aids and It’s Metaphors. Mitchell adaptou o texto a um formato de ciclo de canções que, dramatizadas, surgiram em palco protagonizadas pelo próprio Almond. Apesar de estarmos musicalmente longe dos terrenos da canção pop a que ligamos muitos episódios da obra do cantor, na verdade desde o início da sua obra a solo que mantém uma relação regular com programas para voz e piano. Aqui todavia sem uma visita a formas luminosas nem êxitos, antes procurando pelo negrume da música e o dramatismo da interpretação o estabelecer de pontes entre as memórias do século XVII e a proximidade da morte com que ele, como tantos outros, viveram quando, sobretudo nos anos 80, a sida começou a ceifar vidas.