segunda-feira, julho 21, 2014

A máscara de Cristiano Ronaldo

A. Evitemos o comodismo hipócrita: não faz sentido reprovar o mais recente gesto de Cristiano Ronaldo no Instagram — a publicação de uma imagem sua, com uma máscara de tratamento estético facial — como se fosse a manifestação de uma qualquer excepção.

B. Em boa verdade, ele surge apenas como a ilustração de uma regra que o imaginário dos "famosos" consagrou. A saber: ser "famoso" é também promover uma visão caricata da intimidade. Porquê caricata? Por duas razões muito lineares: ou a intimidade é vivida como um circo anedótico de intermináveis formas de exposição — e é isso que todos os dias nos querem impingir; ou, então, a intimidade não pode deixar de ser aquilo que, por definição, não se expõe — e esse valor está, também todos os dias, ameaçado pelas formas de estupidez "informativa" que o espaço mediático acolhe e potencia.

C. Nada disto seria uma questão relevante se este tipo de "mensagens" não fosse, afinal, matéria automática de todo um conceito (dominante) de "comunicação" — é ver como a máscara de Ronaldo se espalhou, em poucos minutos, como um verdadeiro vírus informático. O que está em causa não é a pele sob a máscara, até porque, neste universo, se evita lidar com as singularidades ontológicas dos corpos. O que está em causa é, isso sim, esse aparato de "informação" que tende a reduzir a vida vivida a uma histeria de imagens alimentadas por um "eu" prisioneiro dos media, obrigatoriamente exuberante na sua pueril felicidade.