quarta-feira, abril 16, 2014

Há vikings em Londres! (parte 1)

Iniciamos hoje a publicação de um texto sobre a exposição ‘Vikings: Life and Legend’, patente no British Museum, que foi originalmente publicado no suplemento Q. do DN de 12 de abril com o título ‘Para acabar com a visão romântica dos vikings’.

Não podia ter sido mais bem escolhido caso se tratasse de um casting para um filme. Alto, robusto e de barbas claras, um funcionário do British Museum controlava as chegadas às bilheteiras daqueles que tinham feito inscrições prévias, via internet, à porta de uma nova exposição temporária sobre a idade dos vikings que, até 22 de junho, estará patente numa nova área agora inaugurada na ala Sainsbury do conjunto de edifícios que fazem a sede do museu e que assim o volta a colocar no mapa das grandes exposições mundiais, um ano depois de ali ter feito enorme sucesso uma outra dedicada ao quotidiano de Pompeia e Herculano, duas cidades romanas soterradas por uma gigantesca erupção do Vesúvio no ano 79 da nossa era.

Vikings: Life and Legend é a primeira grande exposição sobre os vikings que o British Museum apresenta em mais de 30 anos e nasce de uma parceria entre o National Museum of Denmark and the Staatliche Museen zu Berlin, em conjunto as três instituições propondo-nos um olhar sobre a idade viking (que se define num intervalo entre os séculos VIII e XI). A exposição, adverte o catálogo, não procura ser um olhar panorâmico sobre o tempo dos vikings, mas antes um reflexo do que têm sido as mais recentes descobertas arqueológicas sobre a sua presença e o seu tempo, assim como traduz o conhecimento revelado por alguns dos últimos trabalhos académicos nesta área do conhecimento. O achado recente em Weymouth (Dorset, Reino Unido) de uma vala com corpos de homens executados (1) abriu, por exemplo, novas luzes sobre os “vikings reais” (como descreve um dos press releases da exposição). O espólio achado no vale de York (com a ajuda de detetores de metais), e que corresponde ao maior achado viking desde 1840, está ali representado na íntegra, este conjunto de moedas, pulseiras e pratas sendo um exemplo da abordagem aos mais recentes trabalhos de arqueologia que a exposição traduz. Tematicamente arrumada numa sucessão de salas, a mostra tem como principais focos de atenção precisamente os achados arqueológicos, recorrendo a mapas, reconstituições e novas tecnologias ao serviço da imagem e da informação para, das peças, fazer nascer um discurso narrativo. A joia da coroa de Vikings: Life and Legend é um navio de guerra, o maior alguma vez encontrado, que domina a sala final do percurso expositivo

(1) Uma vala com 54 corpos decapitados (e 51 cabeças) foi encontrada em junho de 2009 no Ridgeway Hill em Dorset (Reino Unido), região costeira junto ao Canal da Mancha. Crê-se que sejam vikings, ali executados por anglo-saxões entre os anos 910 e 1030, depois de uma tentativa falhada de assalto por mar. Os indivíduos tinham na sua maioria idades inferiores ou à volta dos 25 anos, salvo um ou outro mais velho.