Actualmente a promover o seu novo libro (Bread of Angels... lá chegaremos), Patti Smith esteve em The Late Show, à conversa com Stephen Colbert. No final, interpretou Peaceable Kingdom, uma das canções do álbum de 2004, Trampin' — uma verdadeira cerimónia de redenção.
sound + vision
segunda-feira, novembro 10, 2025
A redenção cinematográfica
de Bruce Springsteen
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| Jeremy Allen White: ser ou não ser Springsteen |
Com o filme Springsteen: Deliver me from Nowhere, de Scott Cooper, redescobrimos os tempos dramáticos em que Bruce Springsteen gravou o seu álbum Nebraska: esta é a história de um criador assombrado pelos seus fantasmas familiares — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 outubro).
São bem conhecidas as resistências de Bruce Springsteen a qualquer forma de apresentação pública ou estratégia de promoção que se fundamentem num conceito de “estrela” mais ou menos feérico. Mesmo a produção de telediscos nunca foi uma das prioridades do criador de Born in the USA. Por isso mesmo, talvez que o seu retrato cinematográfico agora lançado nas salas de todo o mundo — Springsteen: Deliver me from Nowhere, escrito e realizado por Scott Cooper — não pudesse deixar de existir como uma espécie de desconcertante anti-clímax. Que é como quem diz: não uma celebração da carreira, antes uma confissão violentamente marcada pela depressão e muitas formas de solidão.
O subtítulo talvez se possa traduzir como “liberta-me do nada” ou “de nenhuma coisa”, ou ainda (se quisermos forçar o apelo poético) “liberta-me de um lugar que nunca existiu”. Provém do verso final de Open All Night, uma das canções do alinhamento do álbum Nebraska (1982). E faz todo o sentido que assim seja: de forma linear, podemos até resumir o filme como um retrato da gestação desse álbum admirável, por certo aquele em que a pulsão autobiográfica que atravessa todo o universo de Springsteen se exprime de forma mais directa e obstinada.
As raízes de tudo isso podem ser encontradas na infância de Springsteen, sobretudo no ziguezague afectivo vivido entre um pai agressivo (Stephen Graham) e uma mãe hiper-protectora (Gaby Hoffmann). Talvez que o filme ganhasse outra dimensão, porventura mais épica ou menos “demonstrativa”, se a sua montagem não insistisse em recuar regularmente a tais memórias, correndo o risco de esquematizar o que, em boa verdade, fica explícito desde a cena de abertura. Seja como for, este é menos um filme sobre as alegrias da criação artística e mais sobre o misto de dor e resgate que tal criação pode envolver — como se Cooper, fiel ao génio musical de Springsteen, lhe quisesse doar um ritual de redenção que só o cinema poderia concretizar.
Nesta perspectiva, talvez que a proeza maior de Springsteen: Deliver me from Nowhere seja o trabalho de composição (será que podemos dizer “encarnação”?) de Jeremy Allen White. Alguma semelhança física de White com Springsteen acaba por não ser um factor decisivo desse trabalho, muito menos a procura de qualquer imitação de gestos ou tiques. Com uma contenção surpreendente (sobretudo se nos lembrarmos da exuberância algo postiça da sua interpretação na série The Bear), White devolve-nos um Springsteen assombrado por fantasmas que, em última instância, ecoam na austeridade formal e instrumental de Nebraska — o álbum foi agora reeditado pela Sony Music com muitos extras que ajudam também a compreender o contraste entre a vibração emocional das canções e a invulgar singeleza técnica da respectiva produção.
O filme é todo ele sustentado por um elenco de múltiplos talentos. Além dos nomes já citados, importa não esquecer as contribuições de Jeremy Strong e Paul Walter Hauser — o primeiro assumindo a figura mítica de Jon Landau, produtor e “manager” de Springsteen, o segundo como Mike Batlan que garantiu o exemplar minimalismo das gravações caseiras de Nebraska.
Entre as narrativas com que tem sido possível acompanhar a obra de Springsteen, o filme de Scott Cooper talvez se possa situar como um capítulo que sucede à autobiografia Born to Run (ed. Elsinore, 2016) e ao espectáculo Springsteen on Broadway (2018), filmado num registo disponível na Netflix e também editado em formato de álbum com chancela da Columbia.
Em boa verdade, a dimensão confessional de muitas canções de Springsteen apela a estas “revisões” biográficas, reflectindo a demanda interior da sua arte de contador de histórias. Acertando o calendário, digamos que Springsteen: Deliver me from Nowhere nos ajuda a conhecer o que aconteceu entre os álbuns The River (1980) e Born in the USA (1984).
domingo, novembro 09, 2025
Nina Simone
— reeditado o último álbum de estúdio
Lançado em 1993, A Single Woman foi o derradeiro álbum de estúdio de Nina Simone (1933-2003): uma preciosidade com dez canções, resultante de sessões de gravação em que foram registados cerca de vinte temas. Daí o título completo da respectiva reedição: A Single Woman: The Complete Elektra Recordings — uma antologia de confissão e revolta aqui recordada através da canção-título, num registo de 1993.
Emmylou Harris canta um clássico
de Bruce Springsteen
Eis uma pequena pérola oferecida pela AXS TV: o clássico My Hometown, de Bruce Springsteen, interpretado por Emmylou Harris — aos 78 anos, eis a perene poesia da criadora de The Ballad of Sally Rose.
sábado, novembro 08, 2025
Scarlett Johansson filmada por Yorgos Lanthimos
Wings — uma antologia
A nova antologia dos Wings chama-se... Wings. Para evitar confusões, o subtítulo é "The Definitive Self-Titled Collection": é mesmo um best of que nos ajuda a perceber que, mais do que um pós-Beatles para McCartney, os Wings foram um caso sério no panorama rock da década de 1970. Para actualizar memórias, aqui está Silly Love Songs.
sexta-feira, novembro 07, 2025
A razão e as razões de André Téchiné
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| Isabelle Huppert com os "novos vizinhos" |
Figura ímpar do cinema francês das últimas seis décadas, André Téchiné regressa com Os Novos Vizinhos, filme simples e majestoso sobre uma teia de inesperadas cumplicidades. Com a admirável Isabelle Huppert — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 outubro).
Pensemos em O Local do Crime (1986), talvez o mais belo dos filmes em que André Téchiné já dirigiu Catherine Deneuve. Ou em Os Juncos Silvestres (1994), uma teia de paixões com a guerra da Argélia em pano de fundo. Ou ainda Les Témoins (2007), inédito no mercado português, centrado num grupo de personagens assombrado pela eclosão da sida. Como podemos definir a linha geral do cinema de Téchiné? Pois bem, em todos os seus trabalhos deparamos com o radicalismo da pulsão amorosa e, mais do que isso, a singular, por vezes sublime, estranheza das relações humanas. A sua mais recente realização, Os Novos Vizinhos (2024), aí está como um belíssimo prolongamento de uma obra fulcral na história do cinema francês (e europeu!) das últimas seis décadas.
Uma breve sinopse pode ajudar-nos a compreender aquela estranheza. Isabelle Huppert tem mais uma das suas admiráveis composições minimalistas como Lucie Muller, oficial da secção de investigação científica da polícia de Perpignan, figura solitária cujo marido, também polícia, se suicidou. Vai conhecendo Yann (Nahuel Pérez Biscayart), Julia (Hafsia Herzi) e a sua filha Rose (Romane Meunier), os seus “novos vizinhos” (Les gens d'à côté é o título original), com eles estabelecendo uma relação quotidiana de múltiplas cumplicidades... Até que descobre que Yann é um activista político cujas formas de protesto contra a polícia lhe valeram uma condenação e o cumprimento de uma pena de prisão domiciliária...
Téchiné encena tudo isso com a fluência de uma reportagem — a sua câmara mantém uma relação próxima, delicada e sensual, com os rostos e os corpos dos actores —, ao mesmo tempo que observa os detalhes das vidas comuns (e em comum) como sinais de uma complexidade que não se esgota, nem de longe nem de perto, no estatuto dramático (ou no simbolismo social) que cada personagem parece representar. O envolvimento de Lucie com Yann e a sua célula familiar vai mesmo desencadear um processo de interrogação dos limites existenciais de cada ser humano, até porque, de forma subtil e ambígua, Téchiné se mantém fiel a uma lógica realista de observação da banalidade do quotidiano.
De Téchiné costuma dizer-se, e com fundamento, que é um dos herdeiros directos de François Truffaut — a sua primeira longa-metragem, Paulina s’en va surgiu em 1969, o ano em que Truffaut assinou A Sereia do Mississipi (com Catherine Deneuve!). Seja como for, importa não esquecer que tal genealogia nos remete para a herança intemporal de Jean Renoir (1894-1979) e para a sua disponibilidade moral para resistir a qualquer razão universal, nunca menosprezando as razões de cada uma das suas personagens.
quinta-feira, novembro 06, 2025
A IMAGEM: Yael Martinez (2025)
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| YAEL MARTINEZ / Magnum Ervin, trabalhador vindo da Guatemala Los Angeles, 10 agosto 2025 |
quarta-feira, novembro 05, 2025
domingo, novembro 02, 2025
Heartbeat City [DeLuxe]
Foi há 40 anos que The Cars lançaram Heartbeat City, entretanto consolidado como um clássico incontornável de uma pop tingida de cores new wave, sempre em amena convivência com sintetizadores e afins. Em boa verdade, as contas não batem muito certo, já que aquele que era o quinto álbum de estúdio da banda de Ric Ocasek surgiu a 12 de março de 1984. Mas não nos queixemos dos ajustes do calendário: o que importa é registar a novíssima edição DeLuxe — são cinco CD com misturas, remisturas & etc., e ainda um concerto de 1984. Actualizando a memória, eis o tema-título tal como foi interpretado no Live Aid, em Filadélfia, a 13 de julho de 1985.
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